Maku

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Nascido em 1986, Marcus Batista, mais conhecido como Maku, cresceu intercalando vivências entre a zona sul e a zona leste de Teresina. Sua trajetória começa numa Teresina em transformação, na virada dos anos 2000 para os anos 2010. Filho de mãe solo, criado entre os bairros da zona sul e da zona leste, encontrou na arte urbana uma forma, não apenas de se expressar, mas de conquistar visibilidade e pertencimento em um contexto de desigualdades marcantes.

A pichação, experiência iniciada aos 12, 13 anos, foi um rito de passagem, uma forma de encontrar a sua própria “tribo”. “Eu morava na periferia, era filho de mãe solteira, não tinha tanta voz, não era tão visto, tão enxergado”, explica.

Desde o princípio, a experiência da pichação esteve profundamente enraizada na geografia de Teresina. A rua foi sua escola: nela aprendeu sobre estética, risco e rebeldia. “Foi um processo muito espontâneo, muito ligado ao meu contexto social, e que depois se desdobrou em uma prática consciente de graffiti”, lembra. Como ele mesmo diz, foi um aprendizado, “e eu acho que todo aprendizado é válido”.

A arte urbana possibilitou um intenso intercâmbio entre os diversos territórios em Teresina, em uma época de poucos recursos, de comunicação limitada e de quase nenhuma acessibilidade. Por meio da arte, ele passou a conhecer pessoas da zona sul, como o Parque Piauí, ao sudoeste, como o Dirceu e adjacências. Para ele, essas conexões se davam, justamente pelas conexões da arte urbana.

Nessa época, ainda frequentando a escola, os encontros eram mais lúdicos. Sempre tinha alguém riscando o caderno do outro, de forma recorrente, em praças como a da Liberdade, Fripisa, Pedro II ou na Ocílio Lago, apelidada de Praça dos Skatistas, situada no Jockey, e considerada por ele um ponto mais underground da cidade.

Naquele contexto, a arte urbana se tornou uma importante ferramenta de socialização: “Fui a lugares  onde a gente não tinha muita visibilidade, mas através da pichação e, depois do graffiti, eu comecei a circular, a dialogar com outras pessoas, a conhecer outras realidades”. Foi a partir dessas vivências que ele começou entender que o muro não era só um espaço de risco ou de aventura, mas um espaço de afirmação e de resistência. “Comparando há 10 anos, se eu usasse aquela mesma grafia do picho, a sociedade ia apontar com outros olhos, e dizer: é um marginal, é um bandido, esse é um delinquente”, acredita.

Entre o picho e o graffiti

Para Maku, considerando os aspectos estéticos, o picho e o graffiti são duas artes distintas, mas que andam lado a lado como irmãs gêmeas. No entanto, o picho tem uma estética que nem sempre agrada aos olhos não treinados, e experimenta uma difícil definição no campo da arte. “Para mim, é muito ambígua essa história de dizer ‘o que é arte e o que não é’, porque só quem pode saber e dizer quem está manifestando aquela expressão. Agora, quem enxerga essa expressão, também acaba tirando sua própria conclusão. É por isso que eu digo que, se eu fizer um risco e, para mim, se eu tiver aquele sentimento de que aquele risco é um graffiti, que é uma expressão artística, não tem lei, não tem ninguém que vai dizer o contrário”, contesta.

Sobre o picho, além de ser uma arte pouco inteligível pela maioria das pessoas, também é uma expressão que enfrenta muitos preconceitos. “Se aquele rapaz que mora na periferia, que pega duas latas de spray, um potinho de látex, vai para rua e faz essa manifestação artística e cultural, é abordado pela polícia. Até pela própria instrução educacional e social dele, ele pode nem saber argumentar. E aí ele é preso, ele é detido, ele tem sua reputação manchada, porque ele detido por um policial que não entende o que é aquilo, e para ele é tudo pichação”, explica.

Enquanto o graffiti passou a ter maior aceitabilidade, o mesmo não ocorreu com o picho. Em trabalhos no estilo “Vandal”, muitas vezes o artista tem que lidar com a truculência das abordagens policiais. “É notório que a polícia tem a sua tática de abordagem, né? E normalmente é uma abordagem mais agressiva”, conta. Maku explica que o fato de ter uma lei municipal, como 4616/2014, que reconhece o graffiti como manifestação artística e cultural, traz um pouco mais de tranquilidade, embora não livre o artista de sofrer eventuais repressões. “Porque tem outra lei municipal que garante tanto prisão como uma multa, em torno de 10 mil reais, ao pichador. Mas, se eu for riscar uma parede e fizer um traço, quem é o policial, o juiz, o delegado, a autoridade que seja, que vai contestar se eu disser que é um graffiti? O que é que vai distinguir uma coisa da outra? Então, apesar de ter as leis, eu entendo que elas existem para melhoria, mas ainda falta muita clareza”, questiona.

Movimentos necessários

Maku não esconde que começou na pichação ainda adolescente. “É, na verdade: eu fui uma das pessoas que viu aquele movimento sendo construído, sendo montado, sendo executado na cidade, e de cara me identifiquei”, conta. Ele diz que quando começou a praticar as suas grafias, começou a conhecer pessoas do meio e com o passar do tempo, acabou se inserindo no movimento.

No graffiti não foi diferente. Ele se interessou por essa expressão por volta de 2013, quando conhecia poucos  coletivos organizados na cidade. Ele destaca o Ruaz Crew, um coletivo formado por Laércio Sinza. O trabalho acabou gerando um festival que até hoje leva o seu nome. “Foi em 2016, o primeiro Festival Ruaz Crew, que juntou vários artistas. E foi ali que eu vi aquela coletividade, a troca de experiências, de conhecimentos. Foi nessa época que eu vi acontecer o que sempre teve, os mutirões de graffiti. E, além dos mutirões de graffiti, também os painéis coletivos.

Eventos, como os festivais, selecionam artistas. “Os murais coletivos são quase sempre executados em festivais, quando alguns artistas se reúnem e decidem executar um trabalho em conjunto. Ou também de forma esporádica, quando um grafiteiro tem um espaço (muro) e convida amigos pra pintarem juntos nesse espaço”, explica. Já os mutirões são abertos para quem quiser participar: “Se tá tendo um mutirão de graffiti, cada um traz suas tintas, você tem um espaço na parede, você vai e faz sua arte”.

O próprio Maku também articulou alguns movimentos de graffiti na cidade. Junto com o produtor cultural Ronne da Cruz organizou, em 2017, o 1° Mutirão de Graffiti de Teresina: Tinta na Federal, que reuniu 80 artistas de todo o país e produziu a maior galeria de arte urbana do estado com 1,3 km de extensão no Campus Petrônio Portela da Universidade Federal do Piauí.

O mutirão surgiu de um projeto de extensão que Maku, em 2017, então estudante de pedagogia, escreveu em parceria com Ronne da Cruz. “Naquela época, eu já tinha executado alguns trabalhos de forma mais discreta na UFPI. Eu pintei o DCE de lá, pintei alguns espaços e isso chamou a atenção de algumas pessoas. Nessa oportunidade, conversei com a professora Jaqueline através de um amigo, o Ronne, que inclusive é meu parceiro até hoje, e a gente escreve projetos juntos, executa trabalhos”, conta.

Maku explica que o apoio da professora Jaqueline foi fundamental para que o projeto fosse aprovado e ocorresse em pleno êxito. “Ela enxergou a potencialidade e nos deu essa oportunidade. E aí foi que a gente conseguiu reunir mais de 80 artistas do Norte e Nordeste do país. Aqui em Teresina já tinham acontecido alguns encontros, mas nenhum nessa proporção, nessa grandiosidade. E isso resultou em 1,3 km de graffiti nos muros externos da universidade”, comemora.

No ano seguinte, em 2018, a professora Jaqueline Dourado entrou em contato com Maku e sugeriu a produção de um livro, o “Galeria de Arte Urbana”, um catálogo explicativo de todas as artes executadas durante o evento, reunindo, ainda, textos acadêmicos sobre o graffiti. “Esse livro traz justamente a importância do graffiti e das escritas urbanas, para esse contexto mais universitário. Até então a universidade não tinha muito acervo. No próprio curso de artes não tinha e não se debatia o graffiti, e não tinha um contexto, nem um conteúdo voltado para esse tema. Mas, hoje tem esse catálogo. Vira e mexe, e em algum momento, em alguma aula de artes, ele acaba sendo tema”, sorri, satisfeito.

Hoje, Maku é um dos organizadores do Cuia, o Circuito Urbano de Intervenções Artísticas, cuja primeira edição deu uma maior ênfase aos artistas piauienses. “Tirando o único convidado de fora, que foi o Hirlan Moura, de Fortaleza, todos os demais foram do Piauí”, conta.

O Cuia teve, desde então, três edições, contando com artistas como a LuRebordosa, que tem “um trabalho muito bom em defesa dos direitos artísticos e sociais das mulheres e das minorias”. Outra artista que participou foi Mônica Barbosa, que hoje mora em São Paulo, e, hoje, é uma artista de renome internacional. O Circuito também deu visibilidade a artistas emergentes, como a Clara, que hoje assina como Potiza.

Um outro viés assumido pelo projeto é a restauração e urbanização dos espaços públicos da cidade. Maku cita como exemplo a fachada do Cemitério São José, a biblioteca Abdias Neves, na Praça da Bandeira. Ele diz que ao graffiti ocorre depois que o próprio muro é revitalizado. “Muitos muros estavam deteriorados, com partes de reboco quebrado, e a gente primeiro faz a restauração, para depois pintar”, diz.

 

Referências locais, nacionais e internacionais

Para Maku, a principal referência da arte urbana é Nonato Oliveira. “Sem sombra de dúvidas, para mim, é a minha maior referência. É o pioneiro dentro desse contexto do muralismo e do graffiti. Inclusive, ele começou a fazer (arte urbana) numa época que ninguém nem sabia o que é que era, se existia ou se iria existir, né? Então aqui na cidade, ele já começou a executar o seu trabalho dentro dessa estética, mas não com o nome graffiti, tanto que sempre foi conhecido – inclusive por ele mesmo -, como um artista plástico. Só que seu diferencial foi fazer trabalhos em superfícies externas, como muros e paredes, quando só se trabalhava em telas”, explica.

Embora considere Nonato Oliveira um pioneiro na arte urbana em Teresina, Maku reconhece que o que ele fez foi muralismo. E tecnicamente, mural é aquele feito com materiais específicos como látex. Já o graffiti, levando o conceito, é aquele executado com spray. Então, tecnicamente falando, ele considera que ambas expressões se distinguem pelos materiais utilizados. Mas tem algumas outras distinções, que passam pelas permissões sobre o uso do suporte, a parede. “Levando para o contexto underground, o graffiti é ilegal quando me manifesto numa parede sem autorização de ninguém para isso. É uma transgressão, né? É um ato transgressor, né?”, questiona. “Já o muralismo, não. O muralismo já tem aquele cunho todo comercial, é algo autorizado, que tem toda uma estética envolvida, uma temática. Então, o mural é executado, na sua maioria das vezes, por pessoas  com permissões. Então, pelo fato de ser comercial, aquela pessoa que faz, meio que fica invisível. Mas de modo geral, o que mais difere o mural do graffiti é esse contexto comercial”, explica.

Maku lembra de outros artistas que são, hoje, referências para seu trabalho e que ajudaram, cada um à sua maneira, a levar o graffiti a um patamar de reconhecimento nacional e internacional. É o caso do artevista paulista, Mundano. “Ele tem um  trabalho voltado justamente para a defesa do meio ambiente. Então, ele já fez empenas com tinta tirada de brumadinho. Aliás, da lama de Brumadinho, ele confeccionou tinta, gel tinta e executou uma empena. De todas as tragédias que acontecem hoje no Brasil, ele extrai o material, confecciona a sua tinta e executa um trabalho com esse cunho de protesto. É um protesto muito forte”, conta.

De outro eixo, ele cita um artista paraense chamado Fábio Graf, mais situado ao Norte do Brasil. “Ele traz no seu trabalho justamente esse enaltecimento da cultura amazônica, né?”. E do Nordeste, cita o cearense Yoda,  considerado por ele um artista excepcional, hiperrealista, que, inclusive, participou do “Tinta na Federal”. “Os trabalhos dele são muito bons”. No Nordeste cita, ainda, o Bruno, conhecido como BNK, de São Luiz,  cujo trabalho também é realista. “Também posso citar o próprio GardPam, que trabalha com personagens. Inclusive, ele pintou aqui em Teresina, no ano passado”, lembra.

No Sudeste, Maku evoca, em um contexto mais plural, o paulistano Kueio, que participa do cenário da arte urbana desde 1999. “Hoje ele é um homem trans e começou a assinar como Kueio. É um excelente artista que  trabalha também com personagens com uma estética mais realista. Então, ele consegue trabalhar o personagem dele que é um coelho de uma forma 3D. Então, é muito interessante”, explica.

Proposta estética e motivações políticas

O graffiti de Maku é marcado por um estilo híbrido, que conjuga lettering, personagens e narrativas figurativas com forte carga simbólica. O artista não se limita a um único formato: transita entre murais de grande escala, painéis comunitários e lettering mais experimental. Mas, ele explica que seu trabalho tem um marcante cunho histórico. Ele cita como exemplo a sua intervenção artística no Mercado do Mafuá, quando retratou os próprios feirantes nas fachadas. “Uma fachada que pintei faz referência às nossas potencialidades, como a Carnaúba, os peixes, como o piau, que é um símbolo nosso também. Também trago o boi de uma forma mais folclórica, que é o nosso boi bumbá”, conta. Ele também resgata um personagem, registrado originalmente na Avenida Miguel Rosa com a Avenida Maranhão, de uma criança riscando o chão. Nessa escrita de rua passa um rio, onde o artista faz uma referência à música de Torquato Neto. “Essa música retrata justamente aquele entorno da Matinha e tudo que, antigamente, era apenas um vilarejo. Assim, em todos os meus trabalhos, pelo menos, procuro fazer no mínimo uma pesquisa sócio-histórica para pegar os elementos, ver o contexto e aí em cima disso construir as minhas obras”, explica.

Para Maku, estética e política não se dissociam. Sua obra busca dialogar com o espaço em que está inserida e provocar reflexões sobre memória, pertencimento e injustiças sociais. O artista entende que o graffiti deve ultrapassar a função decorativa e assumir uma dimensão crítica, desafiando leituras convencionais da cidade. Um de seus trabalhos mais significativos – o mural da História Esquecida -, executada em 2021, na Praça da Liberdade, resgata e dá visibilidade a um artista negro, o carpinteiro Sebastião Mendes, que no Século XIX, entalhou três das cinco portas da Igreja São Benedito.

“Pesquisando, a gente descobriu bem a fundo toda a história, todo o contexto. E aí eu achei mais do que justo estar homenageando, justamente, os escravos, a sociedade dos escravos que fizeram parte diretamente da construção daquela igreja, né? Foi um negro que foi responsável por entalhar as portas da igreja de São Benedito, e se hoje a igreja é um patrimônio histórico tombado pelo IPHAN, é por causa das portas entalhadas do Sebastião Mendes”, defende.

Realizado durante a pandemia de 2021, o painel de Sebastião Mendes foi desafiador, e não apenas por ter grandes dimensões, mas por ter sido pintado pela técnica do “empena”, o que exigiu que o artista ficasse dependurado a vários metros do chão, trabalhando horas seguidas sem parar.  “Para mim, é o painel mais importante e não pelo tamanho, pelas proporções, mas pela história mesmo, pela importância histórica que tem esse painel”, explica. Os recursos partiram do Prêmio Maria da Inglaterra, pela lei Aldir Blanc. A ideia era executar uma empena cega em uma fachada de um prédio sem janelas, situado em frente à igreja que traz a arte de Sebastião Mendes. “Mas, não contente, não satisfeito, tirei parte do meu cachê para poder executar a segunda empena, em uma torre da igreja, onde hoje tem vários rostos de negros, negros e negras”, diz.

No painel, Maku utiliza cores terrosas e sombreados fortes para destacar a dimensão de invisibilidade histórica. A técnica aproxima-se do realismo, mas mantém traços estilizados que remetem ao graffiti de rua. A inserção na Praça da Liberdade, espaço central e simbólico da cidade, amplia o impacto político: ao inscrever a memória de um trabalhador negro num espaço de circulação popular, o artista confronta diretamente a narrativa oficial da cidade. Trata-se de um mural que combina rigor estético e intencionalidade política, transformando o espaço público em arquivo vivo.

“Ancestrais” – Lagoa de São Francisco, 2023

Realizado no Museu Indígena Tapuio Tabajara, o mural “Ancestrais” articula a linguagem do graffiti com a iconografia indígena local. Aqui, a paleta ganha tons terrosos e orgânicos, evocando tradições originárias e reforçando a conexão com povos indígenas do Piauí, com seus grafismos e cores. A composição centraliza figuras humanas em conexão com elementos naturais, como aves e árvores, sugerindo continuidade entre passado e presente.

Politicamente, o mural é uma afirmação da presença indígena no território, questionando apagamentos históricos e reforçando identidades. A escolha cromática e a técnica de camadas criam profundidade visual, transformando a parede em espaço de memória e resistência cultural.

“Origens” – São Raimundo Nonato, 2023

Inspirado nas pinturas rupestres, “Origens” faz referência ao patrimônio arqueológico do Parque Nacional da Serra da Capivara. As figuras humanas e animais, pintadas com linhas expressivas e cores saturadas, dialogam com a iconografia rupestre da região. No painel, Maku reinterpreta figuras animais e humanas em movimento, pintadas com linhas expressivas e cores saturadas. A técnica mistura traços contemporâneos do graffiti com referências às inscrições pré-históricas, criando um diálogo temporal.

O mural reforça a ideia de continuidade entre arte ancestral e arte urbana, sugerindo que ambas compartilham a mesma função: narrar a vida e inscrevê-la na pedra ou no muro. Politicamente, a obra insere o graffiti no debate sobre patrimônio, mostrando-o como extensão da história cultural piauiense.

“A Feira” – Mercado do Mafuá, 2024

O Mercado do Mafuá tornou-se local de uma de suas obras mais emblemáticas, onde o cotidiano popular foi monumentalizado em mural. Esse deslocamento do graffiti para espaços de ampla circulação revela como a cidade foi sendo apropriada artisticamente em diferentes escalas – do muro da periferia à empena central, da praça juvenil ao espaço institucionalizado.

No mural “A Feira”, Maku retrata a vida cotidiana dos feirantes e frequentadores do Mercado do Mafuá, tradicional espaço popular de Teresina. Utiliza paleta vibrante, com cores vivas que destacam frutas, animais e personagens anônimos. O estilo é figurativo, mas com elementos de exagero nas formas, aproximando-se de um realismo social estilizado. O mural funciona como uma homenagem à cultura popular, monumentalizando o que normalmente é invisibilizado. Ao situar o mural em um espaço de comércio popular, o artista reforça a ideia de que o graffiti é uma linguagem para e das comunidades, transformando o mercado em galeria pública.

A dimensão política está sempre presente. Suas obras funcionam como dispositivos de resistência e memória, trazendo à tona histórias silenciadas ou identidades marginalizadas. Entre personagens, cores e símbolos, Maku consolida um estilo que é ao mesmo tempo estético e pedagógico, poético e político, profundamente enraizado no território piauiense. “Se tem uma coisa que eu sempre defendo no meu trabalho é a questão histórica, a preservação do patrimônio, a riqueza que a gente tem aqui e a gente não consegue – e eu não vou falar nem de valorizar: a gente não consegue nem enxergar, né? Então, eu tenho como um dos objetivos dentro do meu trabalho justamente dar essa visibilidade para as riquezas que a gente tem no nosso estado. E aí quando eu falo de riqueza, não, não só material, mas imaterial também, né? No contexto histórico e tudo, de valorização do nosso povo e nossa terra”, resume.

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