Entre os dias 28 e 30 de maio de 2025, a Universidade Federal do Piauí sediou a XI Jornada Científica de Serviço Social. Com o tema “O Serviço Social e os debates sobre a relação de classe, étnico-racial e de gênero no cotidiano da formação e do trabalho profissional”, o evento reuniu pesquisadoras, docentes, discentes e profissionais de diferentes regiões para discutir as urgências sociais que atravessam a prática da área. Agora, com a publicação dos Anais da XI Jornada Científica de Serviço Social pela Editora Lestu, essas contribuições ganham permanência e alcance ampliado.

Organizado pelas professoras Sofia Laurentino Barbosa Pereira e Teresa Cristina Moura Costa, o volume reúne artigos completos, relatos de experiência e resumos expandidos que documentam os debates vivenciados nos três dias do evento. Com 65 trabalhos acadêmicos, a publicação preserva a pluralidade das vozes que ocuparam os espaços da UFPI, construindo um mosaico de reflexões sobre as desigualdades estruturais que impactam a formação universitária e a atuação profissional dos(as) assistentes sociais no Brasil contemporâneo.
Como documento técnico e político, os Anais se posicionam como uma ferramenta de memória e resistência, demonstrando o vigor de um campo comprometido com os direitos humanos, a justiça social e a transformação das estruturas que produzem opressão.
Para a profa. Dra. Sofia Laurentino Barbosa Pereira, organizadora geral da XI Jornada Científica de Serviço Social, o evento coroa uma trajetória desse evento que vem acontecendo há quase 20 anos na UFPI, promovido pela Coordenação de curso e departamento de serviço social. Para ela, essa edição elencou a temática das relações de classe, raça e etnia e suas articulações com o Serviço Social como central para o nosso debate. “Os anais evidenciam esse esforço coletivo que resultou em 65 trabalhos apresentados no evento, que dialogam com esses temas, de autoria de docentes, discentes, profissionais e pesquisadores, de modo a socializar esse conhecimento, mas também contribuir com a memória institucional, científica e social”, disse.
Classe, raça e gênero: eixos inseparáveis na formação crítica
A centralidade da interseccionalidade entre classe, raça e gênero percorre toda a obra. Os trabalhos reunidos reforçam que a formação em Serviço Social precisa ser sensível aos marcadores que estruturam a desigualdade no país. Nesse sentido, os artigos abordam desde a invisibilização de mulheres negras na academia até os efeitos do racismo institucional na política de assistência social.
Em um dos textos, analisa-se a atuação de assistentes sociais em comunidades quilombolas no interior do Piauí, evidenciando como a prática profissional exige escuta ativa, reconhecimento das culturas tradicionais e enfrentamento das políticas excludentes. Em outro, reflete-se sobre a violência de gênero vivida por estudantes universitárias e a responsabilidade das instituições de ensino em criar espaços seguros e inclusivos.
Esses recortes demonstram que não se trata apenas de inserir temas étnico-raciais ou de gênero no currículo, mas de transversalizá-los em todas as dimensões da formação. O que está em jogo é a construção de uma práxis capaz de romper com os padrões normativos e colonialistas que ainda persistem nas estruturas acadêmicas e institucionais.
A universidade como campo de disputas e potencialidades
Outro eixo transversal dos Anais é a análise crítica do papel da universidade pública. A partir das experiências relatadas por estudantes e docentes, evidencia-se como a formação em Serviço Social é atravessada por contradições: de um lado, a promessa de uma educação emancipadora; de outro, os limites impostos por cortes orçamentários, precarização do ensino e silenciamento de pautas progressistas.
Não faltam relatos sobre estratégias de resistência dentro das universidades: grupos de pesquisa que se consolidam em meio à escassez de recursos, coletivos estudantis que atuam contra o racismo e o machismo, disciplinas optativas que desafiam os cânones tradicionais. Esse conjunto de práticas afirma a universidade como território em disputa — e, ao mesmo tempo, como espaço fértil para o engajamento político e o pensamento crítico.
Como observam os(as) autores(as) dos Anais, é nesse chão concreto — marcado por tensões, lutas e conquistas — que se forja o compromisso ético-político do Serviço Social brasileiro.
Importância dos Anais para discussão de questões sociais
Os Anais da XI Jornada Científica de Serviço Social não são uma coletânea neutra de textos. Eles registram um momento histórico de afirmação da profissão como prática comprometida com a transformação social. E, ao serem disponibilizados em versão digital gratuita e licenciados em Creative Commons, cumprem um duplo papel: democratizar o acesso à informação e incentivar sua circulação nos espaços de formação e militância.
Mais do que um repositório de artigos, este volume é um gesto editorial que afirma: conhecimento se constrói em diálogo, em escuta, em resistência. Assim, a leitura dos Anais é um convite à escuta atenta das vozes que se levantam contra a desigualdade e em defesa de uma formação crítica e plural. Professores(as), estudantes, assistentes sociais e gestores(as) encontrarão na obra subsídios para o debate em sala de aula, para a formulação de projetos pedagógicos e para a atuação em políticas públicas.
A obra está disponível no site da Editora Lestu e se constitui como referência para todos que desejam repensar os rumos da educação, do Serviço Social e da luta antirracista e antipatriarcal no Brasil.