Professores da UESPI e UFPI organizam obra que discute inovação e sustentabilidade com foco em gestão, consumo e impactos sociais no Brasil.

Está no prelo. O livro “Inovação e Sustentabilidade: desafios, estratégias e casos de sucesso” está em processo de publicação pela Editora Lestu em plataformas digitais e em versão impressa.
A obra reúne, como organizadores, um time de professores doutores com forte atuação em pesquisa: Indira Sousa (UESPI), uma referência em inovação social, com uma trajetória marcada pelos estudos em inovação social, inclusive com uma dissertação premiada sobre o tema; Luana Alves (UFPI), com trajetória em estudos de consumo e turismo de base comunitária; e Helano Pinheiro (UESPI), com estudos em propriedade intelectual e transferência de tecnologia para diferentes contextos em que a inovação pode ser desenvolvida.
Em tempos de mudanças climáticas, transição energética e novas demandas sociais, o livro propõe um mergulho em temas como empreendedorismo social, inovação crítica, novas economias, turismo de base comunitária, terceiro setor, gestão de projetos sociais e sustentabilidade .
Um panorama de práticas e desafios sustentáveis
A publicação está estruturada em eixos temáticos que conectam teoria e prática: políticas públicas, inovação tecnológica, estratégias empresariais sustentáveis e gestão educacional comprometida com os ODS. Um dos capítulos discute o papel do Estado frente aos compromissos da Agenda 2030, com foco no ODS-6, analisando responsabilidades institucionais e os indicadores de água potável e saneamento no Piauí. Outro capítulo apresenta o Relato Integrado como ferramenta de gestão e transparência organizacional, demonstrando como a integração de informações financeiras e não financeiras fortalece a governança e gera valor para stakeholders. Outra discussão interessante é sobre as Indicações Geográficas como forma de valorização e proteção do artesanato, com destaque para o diagnóstico da Comunidade Quilombola dos Potes, no Piauí.
Apesar de dialogar com temas globais, o livro parte de experiências localizadas, especialmente do Nordeste brasileiro. Essa perspectiva territorial é um dos diferenciais da obra, que valoriza contextos regionais como pontos de partida para transformações mais amplas. A proposta editorial resgata o compromisso das universidades públicas com o pensamento crítico, a pesquisa aplicada e a inovação social.
A contribuição para o futuro que se escreve hoje
“Inovação e Sustentabilidade” é obra profundamente comprometida com as questões urgentes para a sociedade contemporânea. Não se trata apenas de um livro técnico: trata-se de uma convocação à reflexão crítica sobre como vivemos, produzimos e compartilhamos conhecimento no século XXI.
Ao abrir espaço para um debate sofisticado e situado, a obra se coloca no centro do debate a pergunta que já ecoa nas universidades e empresas do mundo todo: como inovar sem negligenciar o planeta? A resposta começa, talvez, com uma boa leitura. E o livro “Inovação e Sustentabilidade” pode ser adotado em cursos de Administração, Economia, Ciências Sociais, Engenharia de Produção, Políticas Públicas e Educação, oferecendo caminhos para professores, pesquisadores, estudantes e gestores interessados em alinhar desempenho organizacional com ética socioambiental.
Impacto transformador da Inovação
Falar em inovação e sustentabilidade, para a professora Indira Gandhi Bezerra de Sousa, é muito mais do que pensar soluções técnicas ou modelos de negócios disruptivos. É, sobretudo, exercitar a coletividade como método, como ética e como horizonte. Como uma das organizadoras da coletânea Inovação e Sustentabilidade: desafios, estratégias e casos de sucesso, Indira compartilha sua visão sobre o processo que deu origem à obra:
“Acredito profundamente no poder da coletividade. Ninguém constrói nada relevante sozinho, e falar de inovação e sustentabilidade é, acima de tudo, falar sobre cooperação, colaboração e compromisso com o bem comum. Lembro com carinho de uma palestra do ativista quilombola Ananias Nery, na qual ele falava sobre a importância de ‘aquilombar’. Aquilombar é se unir. É somar forças, valores e propósitos. E foi exatamente isso que fizemos neste livro: unimos pessoas que acreditam no impacto transformador da ciência, da tecnologia e da inovação quando guiadas por uma consciência socioambiental.”

A noção de “aquilombar”, evocada por Indira, torna-se símbolo do projeto editorial da obra: reunir diferentes trajetórias, experiências e campos de saber para produzir um pensamento voltado à transformação real das práticas de mercado, sobretudo na área de negócios. Em cada capítulo, lê-se o esforço de aproximação entre teoria e realidade, entre universidade e território.
Para Indira, organizar este livro foi uma verdadeira missão, e também um privilégio. “Reunimos aqui autores com visões epistemológicas diversas, o que enriquece ainda mais a obra. Afinal, o conhecimento avança justamente quando dialogamos com o diferente. Tenho certeza de que os leitores encontrarão em cada capítulo uma oportunidade de aprender, refletir e, quem sabe, se inspirar a também aquilombar ideias e ações por um futuro melhor.”, disse. Esse gesto editorial é, em si, um convite: pensar inovação não apenas como avanço tecnológico, mas como prática coletiva orientada pela responsabilidade ética com as pessoas e com o planeta.
Inovar é reimaginar os caminhos
Para a professora Luana de Oliveira Alves, coordenar a coletânea Inovação e Sustentabilidade foi uma forma de responder a uma inquietação que atravessa pesquisadores, profissionais e comunidades em todo o país: como romper com a repetição de modelos que já se provaram insustentáveis e, ao mesmo tempo, propor inovações que estejam verdadeiramente comprometidas com o bem comum?
“Esta obra sintetiza uma inquietação dos autores: como romper com a lógica da repetição de modelos insustentáveis e, ao mesmo tempo, construir propostas inovadoras que estejam enraizadas em responsabilidade social, ambiental e ética?”

Luana, que atua na UFPI como docente e líder do Grupo de Pesquisa Empreendedorismo, Sustentabilidade e Consumo (GP-ESC), destaca que os desafios do nosso tempo exigem soluções que não apenas dialoguem com a inovação técnica, mas que estejam ancoradas na justiça ambiental e social. Segundo ela, esse entrelaçamento é inevitável:
“Vivemos em um contexto em que as exigências por soluções inovadoras se entrelaçam, de maneira inevitável, com os desafios ambientais, sociais e econômicos. Assim, buscamos reunir contribuições que reflitam essa complexidade, mas que também inspirem ação — nas empresas, nas políticas públicas, nas universidades e nos diversos territórios.”
Mais do que uma compilação acadêmica, a coletânea é apresentada como uma ferramenta que busca provocar, mover e gerar conexões transformadoras. A diversidade dos olhares reunidos na obra é um de seus pontos de força, como aponta Luana: “Sinto-me honrada em coordenar esse projeto juntamente com Indira e Helano e profundamente grata às autoras e autores que aceitaram o convite para compor esta obra. Que esta leitura seja instigante e sobretudo provocadora, despertando novas perguntas, conexões e caminhos possíveis para um futuro mais justo e equilibrado.” Nas palavras da organizadora, está a síntese do espírito do livro: rigor acadêmico, compromisso ético e disposição para pensar soluções que transcendam a técnica — e que abracem o território, o coletivo e a transformação.
Conhecimento com compromisso social
O professor Helano Diógenes Pinheiro, também organizador da obra, ressalta que Inovação e Sustentabilidade concretiza um antigo projeto do Núcleo de Estudos e Projetos em Inovação e Sustentabilidade (NEPIS): promover a articulação entre a pesquisa acadêmica e práticas sociais enraizadas no território nordestino.
“Com o livro Inovação e Sustentabilidade, realizamos um projeto antigo do NEPIS: conectar a pesquisa acadêmica com iniciativas de impacto social, estabelecendo diálogos entre a inovação e as práticas sociais características de nossa região.”

Ao tratar da inovação para além do viés tecnocrático ou exclusivamente mercadológico, Helano propõe uma leitura mais complexa e situada. Para ele, é fundamental integrar a inovação a processos de desenvolvimento socioambiental, valorizando saberes locais e respeitando modos de vida diversos: “No livro, abordamos a inovação não apenas como um elemento de disrupção de mercado, mas integrado com situações concretas de desenvolvimento socioambiental. Precisamos refletir como as mudanças para uma sociedade mais tecnológica podem coexistir com comunidades tradicionais e grupos identitários”, explica.
A fala do professor destaca o que há de mais potente na coletânea: sua capacidade de promover um pensamento inovador que não perde de vista a realidade concreta das pessoas. Ao colocar em diálogo ciência, território e ética, o livro reafirma a vocação pública da universidade e a centralidade da sustentabilidade como princípio, e não como adereço.